tribuna socialista

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

PS: DOIS EXEMPLOS DE UMA REALIDADE PREOCUPANTE!

No final da semana passada (a que terminou em 20 do corrente), a imprensa deu conta de duas notícias que espelham uma realidade que começa a ser preocupante dentro do Partido Socialista:

• Manuel Alegre, Helena Roseta, João Cravinho e outros militantes e não militantes socialistas apresentaram na Assembleia da Republica a constituição de mais um “Clube”. Desta vez, foi o “Clube Liberdade e Cidadania”.
• A guerra que parece não ter solução no PS de Matosinhos vai ser arbitrada e/ou resolvida pelos órgãos nacionais.

Nestas duas notícias revelam-se dois extraordinários deficits crónicos na realidade interna do PS:

• Inexistência de uma autentica democracia interna que motive a participação dos militantes na vida do Partido;
• As estruturas do PS continuam a não se revelar espaços politicamente interessantes onde os militantes possam debater a diversidade e planear a intervenção no social;

O PS para a sua dinamização e renovação militantes não precisa de “Clubes” criados à margem do movimento social e dos militantes socialistas. É preocupante que militantes socialistas como Manuel Alegre e Helena Roseta, habitualmente ligados a intervenções claramente de esquerda, resolvam aderir à lógica da criação de “Clubes”, ainda por cima, lançando o seu na Assembleia da Republica.

Se algum dia lançar um “Clube”, seria mais uma TENDÊNCIA SOCIALISTA DE ESQUERDA aberta a todos os militantes do PS que quisessem/que queiram colocar o Partido Socialista à esquerda e comprometido com os movimentos sociais e com a defesa de um programa claramente anti-capitalista e voltado para a transformação democrática e socialista da sociedade. Para o lançamento dessa Tendência escolheria instalações ligadas ao próprio Partido Socialista.

O Partido Socialista tem de demonstrar à sociedade e à sua base social, os trabalhadores, os jovens, os pequenos empresários, os quadros de empresas públicas e privadas, que tem capacidade militante de mobilização, de dinamização e de renovação. Essa demonstração faz-se com os militantes e não à margem deles!

O PS precisa de motivar a participação dos seus militantes a todos os níveis. Uma participação que se tem vindo a afunilar nos últimos anos. Parece que à medida que o envolvimento nos jogos parlamentares vai aumentando, dando a entender que todas as energias são canalizadas para a intervenção no Parlamento, a participação dos militantes é não só menos solicitada como também mais dificultada.

Só assim é que se percebe como é que as coisas chegaram ao estado lastimável em que estão no concelho de Matosinhos. Não se discute acção política ou acção autárquica. Discutem-se pessoas e tudo se faz para que os militantes sejam obrigados a escolher um lado ou outro, não sendo permitida qualquer postura independente.

A posição da comissão política nacional de chamar a si a resolução deste conflito, somente acentua o extremo deficit de participação dos militantes. É uma posição que nem sequer cumpre o que os próprios estatutos consagram, para além de fazer tábua rasa daquela que foi a vontade maioritária e democrática dos militantes socialistas na última eleição para a Concelhia de Matosinhos.

A comissão política nacional do PS deveria apelar à participação dos militantes de Matosinhos para a resolução do actual conflito: convocando uma convenção concelhia de militantes, incentivando-os à apresentação de propostas concretas de renovação da intervenção socialista na Câmara de Matosinhos, ... Mas não! A comissão politica nacional assume uma posição quase bonapartista e profundamente anti-democrática.

Continuo a pensar que o debate e a renovação do PS tem de ser conseguida através das estruturas do Partido, através da sua capacidade de intervenção nas questões sociais concretas e da coragem de lançamento de propostas com uma orientação claramente de esquerda, democrática e socialista.

Sempre com os militantes!


João Pedro Freire
Militante nr.3760

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