tribuna socialista

domingo, fevereiro 08, 2004

SOUSA FRANCO: CABEÇA DE LISTA DO PS ÀS EUROPEIAS?...POR FAVOR, NÃO!!

Não é oficial, mas o Público de hoje garante que Sousa Franco será mesmo o cabeça de lista do PS nas próximas eleições para o Parlamento Europeu. Esta notícia passará a ser oficial, ao que parece, no decurso da anunciada Convenção Europeia do PS, prevista para 28 deste mês.

Em si mesmo, um nome não é diferente de outro qualquer. Simplesmente Sousa Franco não é um nome qualquer. Nem sequer é militante socialista. Nunca foi!

Sousa Franco, em relação ao Partido Socialista, é um ex-ministro de um governo de António Guterres, do qual se demitiu. Da passagem pelo governo, fica associado a um período em que uma governação que deveria ser de esquerda, democrática e socialista, ficou associada a uma governação presa a jogos de cedências e equilíbrios com lobbies económico-financeiros que só poderiam por em causa aquela governação, como, de facto, veio a acontecer.

A ser verdade a escolha de Sousa Franco, várias questões se colocam a todos os militantes do Partido Socialista:

• Será esta uma escolha que revela, da parte da direcção do PS, coragem política de se assumir como alternativa à governação de direita? Será que Sousa Franco é alguma referência na luta que se tem travado por outro governo, por outras políticas, alguém com perfil de esquerda e comprometido com uma visão socialista para a União Europeia e para Portugal?
• Será que Sousa Franco é a escolha acertada para substituir um socialista com o prestígio político e de militância à esquerda de Mário Soares?
• Porque razão Sousa Franco será o primeiro da lista do PS e António Costa, líder parlamentar e militante do PS, é o segundo?
• Será que não há no Partido Socialista um militante ou na área do PS uma entidade mais identificada com uma acção democrática, socialista e de esquerda?

A direcção do Partido Socialista para tornar o PS uma clara alternativa à governação de direita, tem de demonstrar coragem na análise que faz das governações socialistas, nomeadamente das lideradas por António Guterres, e, em função disso, tem de demonstrar nas escolhas que faz de pessoas para liderar listas eleitorais, a mesma coerência inerente à coragem política que se exige. Neste sentido, sou de opinião que é preciso afirmar que Durão Barroso e Portas não são alternativa a Guterres, mas os governos de Guterres, salvo evidentes excepções, como a criação do Rendimento Mínimo Garantido, não foram exemplo de governos de esquerda com políticas de esquerda. Foram, de certeza, governos bem diferentes do actual de Durão Barroso e Portas, quanto mais não seja pela capacidade de diálogo que souberam demonstrar. Mas mesmo essa capacidade de diálogo foi quase sempre desenvolvida da pior forma e com os piores resultados: foram sinónimo de cedência a lobbies económico-financeiros!

Quem ouve alguns dirigentes do PS falar sobre os tempos dos governos Guterres, parece que falam de uma governação de esquerda que foi injustamente derrotada pela direita. É claro que não foi nada disso, nem se passou nada disso! E este branqueamento que alguns dirigentes do PS fazem dos governos Guterres tem de ser denunciado como forma de podermos evitar que futuros governos do PS repitam os mesmos erros e a mesma orientação liberal que caracterizou os governos Guterres!

Aqueles que sempre votam PS pensando que contribuem para finalmente conseguirem políticas de esquerda de transformação social e de maior protagonismo aos trabalhadores, deverão estar cansados da orientação política que os governos PS acabam por assumir!
A provável escolha de Sousa Franco para a liderança das listas eleitorais do PS ao parlamento europeu, parece indiciar que a actual direcção de Ferro Rodrigues continuará a associar o PS a escolhas políticas caracterizadas pela ambiguidade e pela prática de ser esquerda na oposição e liberal na governação!

Mais uma vez os militantes do PS não têm sido chamados a intervir e a decidir sobre o qual o melhor rumo para o Partido Socialista. Tudo se vai decidindo no segredo dos deuses ou através do equilíbrio entre facções mais mediáticas e a própria direcção partidária.

Porque razão a Convenção Europeia de 28 de Fevereiro não foi organizada de modo a que os militantes pudessem ter dado a sua opinião e decisão sobre a forma do PS intervir nas eleições para o Parlamento Europeu?

João Pedro Freire
Militante nr. 3760

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