tribuna socialista

terça-feira, fevereiro 20, 2007

DOIS ANOS DEPOIS ...

Há dois anos o Partido Socialista conquistava a sua primeira maioria absoluta na Assembleia da Republica. Fartos da governação PSD/CDS, de Durão Barroso, Santana Lopes e Paulo Portas, a votação no PS correspondeu a uma vontade de novas políticas num sentido que contrariasse o neo-liberalismo.

O que temos passados dois anos?

A esta pergunta surge uma outra: o actual governo tem alguma coisa a ver com o resultado de há dois anos atrás no PS? Ou outra ainda: José Sócrates é mesmo secretário-geral de um Partido que ainda se intitula "socialista"?

O actual governo não é o governo PSD/CDS. Não é! Mas nas políticas, nas intenções, nas consequências dessas políticas, quais são as diferenças? Será que há diferenças?

Tomemos o exemplo recente das reacções da direcção do PS e do governo Sócrates, às declarações da euro-deputada socialista Ana Gomes sobre os voos da CIA em território nacional. Os dirigentes e os governantes do PS não se diferenciaram da acção dos governos de direita. Até os defenderam, atacando públicamente a socialista Ana Gomes. Este exemplo, vem demonstrar que há, de facto, um enorme "centrão" de interesses e cumplicidades que parece unir os dirigentes do PS, do PSD e do CDS. Não obstante, as diferenças que vão assumindo no quadro dos jogos parlamentares e politiqueiros.

Outro exemplo desse "centrão" é que se passou com o chamado "Código Laboral". Das críticas que o PS fez enquanto oposição, sucedeu-se uma acção acrítica face a esse "Código".

Na saúde, na economia, na educação, o governo de Sócrates comporta-se como um aprendiz das políticas dos governos de direita ...

Sócrates tornou o PS um partido dócil à direita e face aos lobbies económico-financeiros. Tornou também o PS um partido sem militantes e sem debate interno. Fez do PS um partido preso dos jogos parlamentares e do aparelho de Estado, mas estranho à intervenção social e ao sentir da sua tradicional base social de apoio.

A última eleição presidencial revelou que, felizmente, há um grande número de socialistas que não se revêm na direcção Sócrates. A derrota de Mário Soares revela isso mesmo. A posterior colagem de Sócrates a Cavaco Silva revela também o mesmo e o lado que o primeiro-ministro e secretário-geral toma sistemáticamente.

O resultado do referendo sobre a despenalização da IVG não pode ser atribuido como uma vitória de José Sócrates. Muito menos do seu governo. Aliás a posição do Ministro da Saúde sempre foi dúbia. O resultado do referendo também não foi uma acção de apoio à política de saúde do governo. O resultado do referendo foi o corolário do esforço social e transversal da mesma base social que deu a maioria absoluta ao PS: mais uma vez há o clamor por outras acções e políticas governativas! Só não vê quem quer perpetuar o que nunca foi votado ...

O actual governo PS não é alternativa a qualquer governo de direita. Tal como o PSD sózinho ou com o CDS ou outro apêndice, não é alternativa ao actual governo PS. O mesmo não é alternativa do igual ...

A direcção Sócrates do PS não faz parte das forças que precisariam de começar a falar sobre uma nova alternativa de governação. Uma alternativa fora do neo-liberalismo e com um sentido popular, libertário e socialista!

2 comentários:

LF disse...

Excelente post.
Podiamos ainda lembrar os proclamados 150 mil novos postos de trabalho, que pelos vistos deram lugar a dezenas de milhar de novos desempregados.
A anunciada reforma da administração pública que, pelo que se sabe, ao invés de procurar tornar os serviços mais eficientes não será mais do que liquidá-los em larga escala, recorrendo a empresas privadas para o efeito.
O Caos na educação.
etc etc

Anónimo disse...

Caro João Freire

O Socialismo não tem donos. E parece-me, pelo menos históricamente, que muita boa gente já apelidou socialismo áquilo que foram as governações socialistas da europa de leste, onde como é sabido, as manifestações faziam parte do dia a dia(?), mais os sacrificios que o povo passou para chegar...
Bom mas é verdade que, comomilitante PS e Socialista, há que renovar o pensamento e dentro do partido socialista é necessário pensar o que é ser socialista no governo.
No entanto, há coisas que se calhar o Bloco faria pior...
Mas não está no governo!