tribuna socialista

domingo, outubro 22, 2006

UMA ENTREVISTA PARA LER COM ATENÇÃO E ESPIRITO CRITICO

Na edição de hoje da "Pública" (a revista que acompanha a edição de Domingo do Público), António Chora, coordenador da Comissão de Trabalhadores da Auto Europa, é entrevistado. É uma entrevista que deve ser lida com atenção e espírito critico. Quem fala é o coordenador da Comissão de Trabalhadores da CT da maior fábrica instalada em Portugal.

É visível uma experiência concreta de um trabalhador perante desafios concretos numa empresa que é parte de uma multinacional - a Volkswagen - na era da globalização. Há respostas concretas com uma perspectiva clara de defesa dos interesses dos trabalhadores.

Salientamos alguns pontos dessa entrevista:

"O fundamental é ter boa formação técnica e comportamental, com trabalhadores abertos à discussão para encontrar soluções para os problemas. Da parte do Governo, são essenciais as plataformas logísticas"

" A Europa, no seu conjunto, pode unir-se para travar as deslocalizações?
Pode, proibindo que uma empresa que se deslocalize volte a receber subsídios ou criando um contrato colectivo europeu com mínimos de direitos, regalias e horários de trabalho, para evitar que as empresas coloquem trablhadores uns contra os outros"

" O acordo laboral alcançado em 2003, na Autoeuropa, que evitou cerca de 800 despedimentos perante um quadro de quebra de produção, serviu de exemplo para outras empresas?
Fomos criativos e por isso fomos muito elogiados, mas à excepção de duas ou três empresas do parque industrial, o acordo não foi seguido. Continuamos a assistir aos despedimentos e ao recurso a empresas de trabalho temporário quando há picos de produção"

"O tal contrato europeu de trabalho pode criar um padrão que contrarie essa tendência?
Para lá chegarmos é necessário que os sindicatos respondam à globalização globalizando-se. Caso contrário, se continuarem a trabalhar cada um no seu cantinho, não vamos a lado nenhum. Não é pelos salários que as empresas vão embora. Os salários são mais baixos na Hungria ou na Roménia temporáriamente. Quando se fala em direitos adquiridos eu costumo dizer que o único direito adquirido que tenho está na Constituição: é o direito ao trabalho. O resto são extras que eu tenho de saber negociar de maneira a conseguir o maior lucro possível. E essa tem sido a matriz das negociações na Autoeuropa. Em primeiro lugar está a manutenção e a conquista de mais postos de trabalho, mesmo que tenhamos de sacrificar outras opções. "

"No último comité europeu da VW já nos foi transmitido que esse principio não é eterno (nota: manter aberta a Autoeuropa) tal é a situação da indústria automóvel e a investida que a Toyota está a fazer sobre a Europa. Nesse sentido, as comissões de trabalhadores não podem assumir uma atitude de resistência pura, porque já sabemos quais são as consequências. O melhor é partirmos para as negociações de uma forma positiva, cedendo aqui e ganhamdo ali. Dói-me quando vejo alguns sindicalistas a dizer "não" sem apresentar uma alternativa. Não conheço nenhum dirigente sindical a tempo inteiro que esteja desempregado, e assim é fácil fazer sindicalismo e dizer não a tudo. Têm de dar o salto, caso contrário, as empresas continuam a fechar e os patrões continuam a atirar o ónus para cima dos sindicatos." Posted by Picasa

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