tribuna socialista

segunda-feira, abril 18, 2005


Jean-Luc Parodi é director de investigação cientifica na Fundação Nacional de Ciências Políticas, em Paris. Deu uma entrevista ao Público onde faz interessantes declarações a propósito do debate que decorre em França sobre a chamada "Constituição" Europeia com vista a referendo que se realizará no próximo dia 29 de Maio.

Jean-Luc Parodi não é própriamente um adepto do "não", mas é um francês atento ao que se tem vindo a desenrolar em França.

Considera que "Temos o primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, claramente minoritário. Jacques Chirac é ambíguo: é a política dele que os franceses sancionam ao criticarem Raffarin mas, ao mesmo tempo, há a gratidão pela sua posição à guerra no Iraque que continua a jogar a seu favor. Penso porém que no debate eleitoral o que conta cada vez mais não é a imagem do protector na guerra do Iraque, mas sim a apreciação da sua política".

Parodi considera que em França, o referendo sobre o "Tratado Constitucional Europeu" será uma oportunidade para as pessoas reprovarem a política do governo de direita e do Presidente de direita. Considera mesmo que "Há, numa parte da opinião pública, uma necessidade de sonhar com uma sociedade mais justa. Foi isso que os partidários do "não" perceberam muito bem e exploram, dizendo que a Constituição impede uma melhoria social". Parodi acrescenta que "A Europa é o que está em jogo, mas há um consenso mole pela construção europeia e uma perplexidade mal-humorada sobre um certo número de elementos ligados à Europa. Houve a questão da Turquia, que teve um papel desvastador e joga ainda a favor do "não" numa parte do eleitorado de direita. Há as deslocalizações, directamente ligadas ao medo do desemprego (a 10 por cento). Na entrevista a Chirac, os jovens falaram muito disso, um deles até disse ao Presidente: "Não devemos ver a mesma televisão, toda a gente fala nas deslocalizações e o senhor diz-nos que não". É portanto uma Europa retraduzida nos termos das angústias dos franceses".

O que se passa em França, com a subida do "não" não é uma ameaça para a construção europeia como fazem coro, em Portugal, todos aqueles que têm vindo a alimentar o discurso único e totalitário sobre a Europa. Uma (previsível) vitória do "não" em França, mas também possível na Holanda ou até na Dinamarca, é uma oportunidade para se refundar a Europa com a participação democrática dos cidadãos europeus.

A Europa que nos têm imposto e que está traduzida numa "Constituição" redigida por uma comissão não eleita por ninguém, é a Europa que tem estado de costas voltas para os povos europeus, é a Europa da indefinição, é uma Europa que progressivamente ignora as preocupações sociais. A chamada "Constituição" acaba por ser uma espécie de cartilha programática daqueles que querem perpetuar um modelo liberal - capitalista sem possibilidade de revisão num período de pelo menos ... 50 anos!

É também uma incrível desonestidade intelectual, apresentar o movimento pelo "não" , como uma espécie de "frente" entre esquerdistas e a extrema-direita. Não há um movimento pelo "não", nem, muito menos, uma frente!

A ideia de uma Europa Unida, Democrática, Federal e Socialista surgiu a seguir ao final da 2ª guerra mundial e foi lançada pelo movimento socialista europeu. É esse projecto de Europa que tem de ser refundado, através de um processo que ganhe os movimentos sociais, de cidadãos e democráticos. É um projecto de Europa que não tem nada a ver com a restauração de nacionalismos que significaram e poderão significar guerra ou até continuação da incapacidade política para haver uma resposta europeia contra qualquer aventura belicista.

Pela nossa parte, consideramos muito positivo que o debate em torno do "sim" ou "não" à "Constituição" leve também as esquerdas a repensarem que Europa querem. Há nas diversas esquerdas
  • posições anti-democráticas: como são aquelas que pretendem a todo o custo evitar qualquer debate, como é a posição que tem vindo a ser adoptada pela direcção do nosso PS;
  • posições nacionalistas: como é a posição de sectores do PCP ;
  • posições de nem carne nem peixe: como é a posição daqueles que pensam que deixar tudo como está com alguns remendos sociais, seria a "solução".
O debate só faz bem, para além de ser mobilizador.

TRIBUNA SOCIALISTA - Democracia & Socialismo é claramente pelo NÃO ao actual "Tratado Constitucional Europeu" (TCE). Queremos uma Europa Democrática, Federal e Social.

Queremos uma Europa com instituições eleitas democráticamente e onde não vigore a ditadura do "unanimismo" como é imposto pelo chamado "TCE".

Queremos uma Europa com uma Constituição que resulte de uma Constituinte eleita pelos europeus e com a missão de a redigir.

Queremos uma Europa onde o liberalismo não seja perpetuado, mas onde seja possível, com a participação democrática e a auto-iniciativa dos trabalhadores, a construção de outras estruturas e dinâmicas económicas de orientação socialista.

Somos socialistas em Portugal e na Europa!

Posted by Hello

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