tribuna socialista

sábado, abril 16, 2005

PELA AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS DO IRAQUE

O texto que apresentamos é da responsabilidade da organização SOCIALISMO LIBERTARIO www.socialismolibertario.org e marca uma posição que subscrevemos sobre a actual situação no Iraque.
Contra a ocupação militar e a “resistência” reaccionária
Pela autodeterminação dos povos do Iraque

Hoje em dia a população iraquiana está submetida, por um lado, à violência da ocupação militar das democracias ocidentais que tem custado a vida durante e depois da guerra a dezenas de milhares de pessoas, e por outro à existência, também mortífera, de uma “resistência” reaccionária. Por um lado, o sistema dominante quer impor a democracia ocidental com os seus exércitos e por outro lado a “resistência” (formada principalmente por seguidores do antigo regime ditatorial de Sadam o por sectores que estão vínculados a Al-Qaeda ou a outros sectores fundamentalistas) opõe-se com a mesma lógica face à populçação. Os povos iraquianos encontram-se submetidos ao terror proveniente destes dois lados igualmente reaccionários.

Esta parece-nos uma primeira consideração importante para situar-se desde o ponto de vista das grandes maiorías, da necessidade de que a população conquiste a sua autonomía e se distancie destes dois monstros gémeos. Por tudo isto é importante compreender as circunstâncias da opressão, por exemplo, é evidente que entre importantes sectores da população iraquíana as eleições democráticas recentemente realizadas despertaram algumas ilusões, consequência da memória do genocídio recente a que foram submetidos pela férula do poder salmista e também pela ilusão de poder incidir no novo Estado iraquiano. Mas isto não quer dizer que estes sectores estejam a favor da ocupação, como se demonstrou há um ano com as mobilizações de massas da população xiita. Temos que evitar que se caia na banalização, é uma falsa alternativa escolher entre algum dos campos militares em oposição (o terror militar da ocupação ou o terrorismo da “resistência”). É preciso perceber o ponto de vista das classes subalternas no seu complexo e complicado processo de autodeterminação.

É a partir deste ponto de vista que se devem situar as dificuldades em que hoje se encontra o movimento pacifista. Se é certo que irrompeu há dois anos com uma enorme onda internacional sem precedentes, despois confiou a paz ao resultado da actuação das instituições do sistema, confiando sómente nas contradições do sistema, opondo ao governo norte-americano outros movernos considerados “bons”, como alguns Estados europeus ou a própria ONU. Pensar estes problemas e estas dificuldades hoje em dia é fundamental para as perspectivas que podemos imaginar. Por exemplo: que significa o ambíguo termo democracia? O objectivo da democracia, partilhado pelos que apoiam e pelos que criticam a ocupação, tem de ser discutido. O que foi, por exemplo, a democracia mundial do sistema para os povos iraquianos: un governo que como o de Sadam massacrou o povo curdo com a cumplicidade dos Estados Unidos e dos Estados europeus, uma guerra em 1991 “legitimada” pela ONU que matou dezenas de milhares de pessoas, quando estava a terminar e frente à “intimada” xiita do sul, as tropas norte-americanas deram vía livre à Guarda Republicana de Saddam para que masacrasse e reprimisse, um embargo organizado pela ONU nos anos 90 que provocou a morte de mais de un milhão de pessoas até chegar à guerra e à actual ocupação. Esta é a terrivel realidade de um mundo dominado pela democracia do sistema.

Por isto é importante não alimentar nenhuma esperança na ocupação militar das democracias ocidentais ou nas propostas como as que apresentou o governo francês de uma Conferência de todos os grupos de oposição à ocupação no Iraque, que em alguns casos, como seja das organizações terroristas que demonstram o mais absoluto desrespeito pela vida humana (com atentados permanentes em que o objectivo não são as tropas de ocupação mas a população civil, cujo “delito” é fazer fila numa agência de desempregados ou ir até a uma mesquita xiita).
Estes elementos de clareza são indispensáveis tanto na luta para pedir la retirada de todas as tropas de ocupação no Iraque como para pensar o relançamanto de um movimento pacifista autónomo da práctica e da lógica dos poderes dominantes procurando na auto-actividade e na auto-determinação dos povos o pressuposto indispensável para uma paz fundada no respeito, fraternidade e solidaridade entre os povos.

SOCIALISMO LIBERTARIO
www.socialismolibertario.org

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