tribuna socialista

quinta-feira, abril 28, 2005

A PROPÓSITO DA UNIDADE DAS ESQUERDAS...

As eleições de 20 de Fevereiro passado mostraram um voto nos partidos de esquerda com uma taxa recorde de quase 60%. Não houve um voto concentrado numa candidatura unitária das esquerdas. Mas a maioria absoluta do Partido Socialista e a votação na CDU e no Bloco de Esquerda exprimem um sentido claro de rejeição do governo e da governação de direita e dos partidos que a apoiavam.

Não foi precisa a unidade dos partidos parlamentares das esquerdas, mas o resultado eleitoral traduzido numa clara maioria das esquerdas no Parlamento tem um significado que não pode ser ignorado: são precisas novas políticas e para essas políticas não podem contar os partidos de direita!
O significado da existência de uma maioria parlamentar das esquerdas não tem um significado sómente aritmético. Tem significado social e significado político!
Em Portugal, onde nunca houve uma experiência clara de governação à esquerda exercida pela convergência de partidos de esquerda, diriamos que a iniciativa social tem sempre suplantado a capacidade política correspondente à esquerda.
Nas lutas laborais, no movimento sindical, na diversidade dos movimentos sociais, é habitual encontrarmos convergências que se fazem entre pessoas, militantes ou simpatizantes dos partidos e grupos das esquerdas. Na expressão política dos governos, isso nunca aconteceu!
Na nossa opinião, os principais partidos das esquerdas - o PS, o PCP e o BE - parece que há muito subordinaram a sua capacidade de iniciativa à agenda parlamentar e parlamentarista. Com expressões diferentes em cada um dos três principais partidos, a intervenção social acaba sempre por estar submetida ao que se faz e não faz no quadro da Assembleia da Republica.
Recentemente o Bloco de Esquerda que tinha o bom hábito de fazer rodar no Parlamento os membros das suas listas eleitorais que tinham eleito deputados, abdicou, ao que parece, devido ao seu crescimento eleitoral, dessa rotação. Ou seja, passará a comportar-se como os restantes grupos parlamentares, da direita à esquerda, sem rotação e com forte disciplina partidária.
O parlamentarismo da democracia, o formalismo em que caiu a democracia portuguesa, tem também invadido os partidos de esquerda representados na Assembleia da Republica.
Este comportamento acaba também por ter reflexos nas propostas e programas políticos que apresentam, sendo visível a inexistência de qualquer expressão de vontade de ruptura face ao liberalismo e ao capitalismo. É claro que no discurso de cada um dos partidos descobrem-se declarações contra o "neo-liberalismo", mas no concreto das propostas e dos programas tudo parece subordinado aos parametros que o actual quadro do liberalismo e do capitalismo determinam. Vejam-se, por exemplo, as propostas contra a corrupção no aparelho de Estado (nenhuma delas questiona a natureza classista do aparelho de Estado) ou as propostas relacionadas com a deslocalização das empresas ou a fuga ao fisco (nenhuma delas questiona medidas sobre o controlo de gestão ou sobre medidas de planificação económica). No plano da organização partidária é também visível (mais no PS e no BE) a incapacidade para conseguirem formas de organização laboral fora do movimento sindical que voltem a dinamizar a formação de comissões de trabalhadores quer nas empresas públicas, quer nas privadas.
A unidade das esquerdas - que defendemos - só faz sentido se for acompanhada de programas que avancem sem hesitações com políticas de transformação social, económica e política e que promovam a ruptura com o liberalismo e o capitalismo. Que fomentem também a participação cidadã e dos trabalhadores a todos os níveis. Nomeadamente fora dos estafados esquemas de delegação de poderes em representantes que acabam por não representar quem os elegeu! É claro que tudo isto teria como resultado o confronto com o actual formalismo e parlamentarismo da democracia. E para isso há muito imobilismo de e em todas as esquerdas parlamentares!
É neste cenário que encontramos explicação para o falhanço de candidaturas de esquerda às Câmaras Municipais de Lisboa e do Porto. As direcções dos partidos de esquerda (não os militantes que nunca são envolvidos...) quiseram "somar votos", nunca quiseram definir programas e políticas alternativas e transformadoras. Afinal um comportamento próprio de quem tem da política aquilo que ela tem sido hoje em dia, parlamentarismo e formalismo. Todos os partidos têm responsabilidades. Nem só um ou só outro. Todos parece que querem, cada um à sua maneira, fazer dourar os resultados conseguidos em 20 de Fevereiro. Mais uma vez fica adiada a expressão política do movimento social que deu maioria às esquerdas em 2o de Fevereiro passado!Posted by Hello

1 comentário:

vermelhofaial disse...

É verdade,muito se fala em refundar a direita, mas o que me preocupa é a esquerda não ser capaz de se unir, de encontrar plataformas de entendimento mais alargadas. Também já escrevi sobre o assunto aqui