tribuna socialista

domingo, abril 03, 2005

Bloco de Esquerda / Porto: na senda do sectarismo!

Segundo a edição de hoje do Público, Francisco Louçã terá afirmado que "o PS do Porto é um partido que ainda não conseguiu superar a política da lota de Matosinhos". Considera Louçã que "no Porto é necessário e indispensável fazer uma clarificação política de rumos para a cidade em vez de confusões de poderes e políticas de centro". Afirmou ainda que "os votos do BE, alcançados nas últimas legislativas - o Bloco teve uma votação maior que a CDU quer no concelho do Porto quer no distrito - são votos ganhadores da esquerda, a esquerda precisa de uma mudança."

Esta intervenção de Louçã confirma que há uma grande diferença entre as expectativas eleitorais que o Bloco de Esquerda criou e a capacidade dos seus lideres para perceberem essas expectativas contribuindo para uma mudança na esquerda. Os líderes do Bloco de Esquerda continuam infelizmente muito subordinados a uma cultura de grupelho não sabendo o que fazer com um scoring eleitoral que nunca pensaram, algum dia, vir a ter.

E é uma pena!

Se a direcção do Partido Socialista resolvesse adoptar a perspectiva defendida pelo BE para o Porto (e será mesmo só para o Porto?), então teríamos um PS com maioria absoluta completamente autista. Mas felizmente não isso que está a acontecer. E a posição do PS nos principais concelhos do País - Lisboa e Porto - tem revelado grande abertura política, o que pode ser considerado como um bom contributo para uma outra cultura de relacionamento entre as diversas esquerdas. A entrevista de Jorge Coelho ao "Acção Socialista" a que fizemos referência em posta anterior é também um bom exemplo de que alguma coisa está a mudar, para melhor, no PS.

Bem diferente, é a posição dos dirigentes do Bloco de Esquerda que parece que voltaram aos tempos em que só na teoria defendiam a "unidade da esquerda" embora, na prática, se ficassem sempre pelo tique "nós é que somos a esquerda"!

Uma candidatura unitária das esquerdas para a Câmara do Porto seria, de facto, a tradução de uma clara mudança no comportamento entre as esquerdas com a concretização de uma unidade concreta para uma acção concreta de esquerda para o Porto. Nunca tal aconteceu e acontecer, pela primeira vez e simultâneamente, em Lisboa e no Porto, teria decerto grandes e boas consequências políticas para a esquerda no plano nacional.

Um outro aspecto, a serem verdadeiras as afirmações de Louçã transcritas pelo Público ("o PS ainda não conseguiu superar a política da lota de Matosinhos"), é uma inadmissível ingerência de um dirigente do BE na vida interna do PS. Da mesma forma que o contrário seria também inadmíssivel. Louçã volta também aos tempos em que geria um pequeno grupo armado em "vanguarda"! Louçã não conhece o PS e parece que quer passar um atestado de menoridade aos militantes socialistas. Cabe aos militantes do PS mudarem o PS! Louçã e os dirigentes do BE deveriam preocupar-se mais com o seu partido demonstrando capacidade para adequarem a sua prática política à novas realidade e dimensão do Bloco de Esquerda.

As esquerdas em Portugal precisam de saber convergir. Porque é urgente a demonstração de capacidade política à esquerda para a concretização de programas e políticas para uma mudança democrática e socialista. Isso seria também uma forma de dar expressão política aos 60% colocaram, em 20 de Fevereiro, as esquerdas com uma clara maioria na Assembleia da República. Para essas 60% de pessoas, é muito mais urgente soluções governativas à esquerda que concretizem mudança, do que soluções de oposição à esquerda com capacidade de mudança extraodináriamente limitada.

Partido Socialista, Partido Comunista e Bloco de Esquerda deveriam, cada um deles, dar o exemplo!

1 comentário:

Pedro Sá disse...

Louçã não volta a esses tempos. Nunca deles saiu.

Em qualquer caso o interesse do BE é claro como a água. Responsabilizar a CDU por tudo o que de mau há na cidade.

O objectivo é um cenário de PSD/PP 6 PS 6 BE 1, claramente...que ninguém tenha dúvidas sobre isso.