tribuna socialista

sexta-feira, março 09, 2007

UM PAIS POBRE, DESEMPREGADO ... PARAÍSO DA BANCA (*)

Algo vai mal num país onde o desemprego atinge níveis históricos persistentes de subida, onde a pobreza atinge 1 em cada 5 cidadãos e onde ao mesmo tempo 4 bancos registam lucros astronómicos de 2.000 milhões de euros num único ano.

No ano de 2006 os quatro maiores bancos privados, a operarem em Portugal, registaram lucros fabulosos, com valores 30% superiores relativamente ao ano anterior, sendo que já nesse ano de 2005 os lucros tinham aumentado 40%. Esta tendência surge num quadro de uma economia com crescimento baixíssimo, claramente inferior à média europeia e com o desemprego a registar valores históricos de subida. No último trimestre do ano 2006 mais de 450 mil pessoas estavam desempregadas em Portugal, sendo este valor de 8,2% o mais alto registado nos último s 20anos.

Portugal é entre os 27 países da actual União Europeia, um dos que tem maior taxa de risco de pobreza. Só a Lituânia e a Polónia se encontravam em pior situação. Desde a década de 90 que a taxa de pobreza não se altera em Portugal – um em cada cinco portugueses vive abaixo do limiar médio de vida. Temos também o pior resultado da união num outro indicador – o dos trabalhadores pobres, isto é, apesar de trabalhar e de ter o seu salário este acaba por não proteger o cidadão e a sua família contra a precariedade. Segundo o mesmo estudo do Eurostat, 14% dos portugueses com emprego vivem abaixo do limiar de pobreza. Mas como se devem lembrar, para o ministro da economia este é um bom indicador – é uma vantagem competitiva que Portugal tem no contexto europeu.

Com governantes desta qualidade não é de admirar, que as situações de pobreza persistam no país.O que se tem verificado ao longo das últimas décadas é que as prestações sociais contra a Pobreza não têm conseguido pôr termo ao ciclo de transmissão do baixo nível de vida entre pais e filhos. As transferências sociais têm sido ineficazes, insuficientes e mal direccionadas não conseguindo quebrar o ciclo vicioso de pobreza, existindo dessa forma uma progressiva consolidação das situações de pobreza ao longo do tempo.

Também se compararmos a eficácia do contributo do Estado em Portugal para a redução da pobreza se conclui que esta é das menos eficazes no espaço da União Europeia. Isto acontece porque o combate à pobreza não pode ser reduzido exclusivamente à garantia de um rendimento mínimo social, uma vez que grande parte dos pobres, como vimos, se encontra inserido no mercado de trabalho. A solução passa pela qualificação dos jovens das famílias mais pobres, de forma a permitir a sua integração mais qualificada no mercado de trabalho, podendo por essa via auferir melhores salários.

É claro que para isso aconteça não basta ter trabalhadores qualificados é preciso adaptar a nossa economia a um novo padrão de especialização que, como hoje acontece, não esteja baseado na pouca qualificação e nos baixos salários das pessoas. Já agora, é também necessário um governo que acredite que isso é possível e também desejável.



Texto de Alexandre Pinto

ed. 258, 23 de Fevereiro de 2007 do Jornal do Centro

Sem comentários: